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Capítulo 9: Implorações Silenciadas — Segunda Metade

Encontrando-se sozinha na floresta proibida, o coração da garota se enche de pavor. Ela vai conseguir persistir durante
a noite horrível e se reunir com suas amigas?

Uma história ilustrada baseada na série Touhou.

Propósito.

O dia de uma fada passa, palavras como essa nunca passando pela sua mente. Para que? Propósito? Responsabilidade?
Talento? A natureza está seguindo seu curso. Vai ficar tudo bem.

Era o mesmo comigo até aquela noite quando a Lua virou minha testemunha.

As árvores cantam uma canção sem voz, suas folhas congeladas no tempo. Nem um piu, um estalo ou um fwoosh ousam
perturbar a melodia da floresta proibida.

Tambores altos tocam em meu coração. Um grito, preso na minha garganta. Minha pele está fria. Olhos invisíveis me
vigiam de dentro do vazio. A cada passo eles lutam pelo meu foco, mas a voz mais alta vem de uma memória, um lembrete
do que me falta.

Eles zombam de nós, dizendo que somos fracas e burras, mas nosso propósito é claro. Nós, fadas Kisé, somos umas com a
natureza. Parte de Nusokén; parte desta floresta. Então, não tem do que ter medo, eu digo para mim, na esperança que
meu coração ouça.

Suspirando, eu olho para cima, para minha testemunha. Ela espia através das nuvens como se estivesse se escondendo do
mundo. O que as forças da natureza estavam tentando me dizer? Eu me pergunto.

Percebo que meus olhos estão se acostumando com a escuridão. Digo isso porque os dentes afiados na minha frente
acabaram sendo uma formação de rochas escondendo uma escuridão profunda atrás. Esta caverna é a coisa mais próxima de
um marco até agora.

"Não, isso não vai dar", eu resmungo. Como cheguei aqui? Minha falta de sono fez a última hora(?) parecer um grande
borrão. Onde minhas amigas poderiam estar agora?

Coçando a cabeça, decido retornar de onde vim... talvez.

*** *** ***

"Fantasmas em fogo..." Eu penso na história de Pakua. Ela poderia ter inventado tudo só para assustar Iris, só mais uma
das brincadeiras. Parecia bobo demais... Hmm, o que mais? Vamos lá, pensa em algo. Encontra uma distração...

Fiquei surpresas com a rapidez com que Pakua e Iris se tornaram amigas. Mais cedo parecia que eu nem estava lá. Aquela
que cuidou de mim e aquela de quem eu cuidei se dando tão bem... Orgulhosa? Ciumenta? Como eu deveria me sentir?

Tenho certeza de que não foi de propósito. Pakua pode ser cega as vezes e Iris, bom, ela me pegou de surpresa aqui e
ali, mas ela não foi nada além de boa até agora.

Meus pensamentos são interrompidos por uma luz entre as árvores. A imagem da lâmpada de Iris imediatamente me vem à
mente. Sorrindo, eu me preparo para correr.

Meu corpo fica parado.

Parte de mim implora desesperadamente enquanto se apegando a uma esperança inocente. A outra suspeita calmamente que as
forças da natureza estavam me avisando antes. Fantasma ou não, eu não podia negar que tinha algo errado com este lugar.

Não seria tão simples.

Pensando rápido, corro de volta para a caverna. Não adianta me esconder em outro lugar, o silêncio havia sido quebrado.
O que quer que fosse aquela luz, ela agora estava vindo atrás de mim.

Felizmente, encontrar a caverna foi fácil. Escondida atrás das pedras afiadas, prendo a respiração. Um segundo se torna
um minuto, depois uma eternidade. Enquanto isso, uma corrente de ar atrás de mim se apresenta com meus batimentos
cardíacos em uma harmoniosa sinfonia de tensão.

Eventualmente, a luz assustadora passa pela entrada da caverna em partes desconhecidas. Apesar de não descobrir sua
identidade, me encho de alívio.

"...E agora?" Eu caio de joelhos, meu alívio indo embora tão rápido quanto veio.

"Ficar aqui ou voltar, o que Pakua faria... Argh! O que estou dizendo? Aqueles duas. É tudo culpa delas!" Eu reclamo
para mim mesma, "Elas me arrastaram para essa confusão e agora eu não consigo nem encontrá-las!" Eu cerro os dentes,
abraçando meus joelhos.

"Ah, eu não sabia..." responde a escuridão atrás de mim.

Engasgando em um grito, eu pulo para trás para encarar uma fada bem triste.

"Me desculpa, Kasu", ela lamenta, "Eu queria que a gente fosse se divertir, por isso que eu perguntei pra Pakua se
poderíamos ir em uma caça ao tesouro. É tudo minha culpa..."

"Íris?" Eu pergunto com uma cara boba. "O que você está fazendo aqui? Onde está Pakua?"

Ela me ignora, aparentemente perdida em pensamentos. De repente, ela franze as sobrancelhas e faz um gesto bem quieta
para que eu a siga para o fundo da caverna.

Olhando para fora, engulo a saliva antes de mergulhar na escuridão.

*** *** ***

A caverna segue em uma descida reta e suave. Diferente da entrada, não há pedras afiadas em seu piso e teto. Tem uma
sensação suave e escorregadia, como um escorregador. Uma corrente de ar suave carrega um cheiro desconhecido.

"Quando encontramos esta caverna", explica Iris enquanto caminhamos, "percebemos que você não estava lá. Pakua pegou
minha lâmpada e me disse para esperar na caverna." Eu me pergunto por quê. Pensando bem, teve aquele incidente no
Jardim Central...

"Como não dava para explorar la fora, eu fui por aqui", Sabia.

"Foi quando eu encontrei." Antes que possa perguntar, percebo que estamos nos aproximando da outra saída da caverna. Já
está amanhecendo lá fora. Há quanto tempo estamos...

Não, está vindo de dentro da caverna?

"Não posso compensar por esta noite", Iris sorri suavemente, "Mas espero que isso ajude."

Estamos em uma pequena câmara que está completamente iluminada. Iris se agacha, pegando algo do tamanho de uma
pedrinha. Ela me entrega uma pedra preciosa brilhante, diferente de tudo que já vi antes. Na verdade, as paredes aqui
estão cobertas delas.

Iris sorri orgulhosamente enquanto meu queixo cai. Não só aquele lugar se encaixaria perfeitamente com as muitas
maravilhas de Nusokén, mas foi algo que encontramos por conta própria. Era real. Pakua não estava mentindo. Realmente
tinha um tesouro nesta floresta.

O tesouro do Pescador Ardente.

"Iris!" Eu grito ansiosamente, "Temos que levar de volta para casa, o máximo que pudermos!" Senão ninguém vai acreditar
em nós. Esta é uma chance única.

Iris ri e levanta o punho, "Yarr harr, Capitã!"

*** *** ***

Trocamos um sorriso. Nosso saque foi um grande sucesso. Depois de reunir todas as joias espalhadas pelo chão, pegamos
mais algumas que estavam nas paredes.

"Pena que não trouxemos nenhum saco", penso alto. Iris boceja: "O que você vai fazer com sua parte, capitã?" Esfrego
meu queixo. Vou ter que perguntar para Pakua mais tarde, ela provavelmente vai ter uma ideia.

Ah sim, Pakua! Mal posso esperar para ver a cara dela quando...

BAM!

"Aie! Kasu?" Ouço atrás de mim.

Sobe, vamos! É só correr para frente, seus olhos vão se ajustar mais tarde.

Se o tesouro é real...

Iris não deve ter percebido. Ela provavelmente esqueceu. Eu esqueci. Como eu poderia?

Se o tesouro for é, então...

Argh! Descer essa ladeira foi muito mais fácil. Preciso de mais tempo.

Se o tesouro é real, então também é...

Lá fora. Encontra uma luz. Se for dela... Não, tem que ser dela, certo? Era isso? Era isso que as forças da natureza
estavam tentando me dizer o tempo todo?

Tem que ser. Se não for, então...

"Aie! Ei, cuidado, idiota!" Um esbarramento na noite destrói meu raciocínio.

"P-Pakua, você está aqui!" Eu sorrio, reconhecendo a vóz em um estante.

"É, e você é cega. O que mais é óbvio?" Ela responde sem preocupação.

Eu espero com paciência enquanto Pakua se levanta devagar e se limpa. Olhando para baixo, vejo os restos do que
costumava ser uma lâmpada espalhados pelo chão.

"Estou tão feliz que você ta aqui", eu sorrio, "Eu estava prestes a sair e procurar por você."

Ela levanta uma sobrancelha, "Ué, mas era você que tava me dizendo para vir pra ca."

Pakua me encara, "Se isso é uma piada, não tem graça, Kasu. Sério, que diabos deu errado com esse saco de laranjas que
você chama de cabeça? Por que nos abandonou? Eu preciso colocar vocês duas numa coleira?"

Qualquer outra pessoa teria tomado isso como um insulto, mas eu sabia melhor. "Desculpa, eu estava com sono e quando
percebi..." Ela deve ter ficado muito preocupada.

"Claro, falta de sono", ela põe a mão na cara, "Quer saber? Isso foi uma perda de tempo. Cadê a novata? Vamos voltar."

Sem dizer nada, faço um gesto para ela me seguir. Parando para pensar, ela provavelmente ainda não viu o tesouro.
Aposto que isso vai animar ela.

*** *** ***

Não falamos muito no caminho para a câmara do tesouro. No começo, Pakua tem dificuldade para descer a ladeira. Menciono
como a lâmpada de Iris teria ajudado, mas ela ressalta que ela já estava sem óleo desde o início daquela noite.

Mal consigo conter minha felicidade quando chegamos perto da câmara e Pakua me pergunta se encontramos algum tipo de
atalho para sair da caverna.

Não seria tão simples.

Sem pensar, corro em direção a Iris, segurando-a cuidadosamente em meus braços. Olho para Pakua, esperando um conselho.
Para minha surpresa, os olhos dela estavam arregalados. Ela se segura em uma parede, seu rosto sem cor enquanto ela
luta para respirar.

Sem poder depender da minha amiga, engulo a saliva, tentando lembrar de qualquer coisa que me ensinaram sobre cuidar
dos doentes. O primeiro passo é não desmaiar, eu acho.

Eu checo por um pulso? Não, tenho que encontrar ervas e fazer um remédio. Ah, e se for um problema espiritual? Eu não
to preparada para algo assim.

"Hnngh..." Um par de mãos começa a esfregar meu rosto. Uma Iris atordoada acordou.

Eu suspiro, uma parte de mim desejando derrubar Iris no chão de raiva. Foi uma longa noite. Claro que eu não seria a
única a perder sono. Olho para Pakua, que agora parece estar presa em em outro mundo.

"É hora de ir", digo calmamente. Iris esfrega os olhos devagar enquanto nos levantamos.

"Legal né? A lenda era verdade," digo a Pakua. Iris acena e sorri, "Ah, agora que ela está aqui, podemos levar ainda
mais tesouros para casa."

"Não!" Pakua grita de repente, assustando nós duas. "Digo, não. Olha, é, ah, é amaldiçoado. O tesouro é amaldiçoado.
Deixa aqui. Vamos para casa."

A cabeça de Iris se inclina. Como se estivesse lendo sua mente, eu concordo imediatamente. Na canoa, ou mesmo quando eu
estava andando com sono. Não me lembro de ter ouvido algo sobre uma maldição.

"Bom, você ouviu. Vamos, Iris", eu digo. Iris olha para baixo, tirando um momento para se livrar de algumas pedras
preciosas que ela estava escondendo em suas roupas.

A segunda viagem para fora da caverna é bem mais rápida. Desta vez, nenhuma de nós se sente falante. Pakua está perdida
em pensamentos desde que chegamos à câmara, Iris está quase sonâmbula e estou mentalmente exausta após uma longa noite.

Conforme passamos pelas árvores, olho para cima e percebo que o amanhecer estava muito mais próximo do que eu pensava.
Logo o Sol nasceria e estaríamos de volta em casa, eu acho.

"Por aqui..." Eu me viro, vendo uma luz atrás das pedras afiadas da caverna.

*** *** ***

"Ei, Kasu. Você viu Pakua desde ontem à noite?" Pergunta Iris.

"Nem sombra", dou de ombros, "Tem algo em mente?"

Iris acena, "Eu estava pensando naquela floresta. Você estava lá sozinha, certo? Você notou como era lá fora? Era tão
estranho. Claro, parecia uma floresta, mas atravessá-la parecia mais com visitar um cemitério."

Eu nunca tinha ido a um cemitério antes, então apenas aceno concordando.

Ela continua, "E aquela caverna também. Tinha esse cheiro. O que era, azeite de oliva? Pano velho? Água parada? Água
parada tem cheiro de alguma coisa?

Pensando bem, havia um cheiro que eu não conseguia descrever. Não era forte, mas vinha de algum lugar da caverna. Havia
outro caminho que não vimos?

Ela suspira, "Mas eu queria que tivéssemos guardado pelo menos uma dessas joias. Só uma..."

A câmara de pedras preciosas era uma visão e tanto, com certeza. Cada jóia já era linda por si só, mas juntas elas
iluminavam a caverna com um brilho vermelho-púrpura de tirar o fôlego. Não é meu forte, mas o fantasma tinha um gosto.

Por uma noite, experimentamos uma das muitas maravilhas de Nusokén. Uma floresta assombrada que está fora do alcance de
todos, e por um bom motivo também.

Fechando meus olhos, respiro fundo e sinto a luz do sol na minha pele.

Afinal, eu poderia usar algo mais mundano.

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